quinta-feira, 28 de julho de 2011

Ao amigo Bira

A vida é um jogo injusto. É levado o que nós mais prezamos e nos quedam brinquedos rotos, roupas puídas, sapatos gastos.

Logicamente, humanos que somos, o primeiro sentimento que se descortina é a revolta. É o ódio, é a sensação de que só os vasos ruins realmente não se quebram.

Mas eu acho que é isso que temos que combater. Há de haver fé. E aqui eu não falo apenas de uma fé religiosa, mas na fé de que o futuro trará respostas, de que o sol vai brilhar. “Dias melhores pra sempre”.

É hora de juntar os cacos, de darmos as mãos, de sermos fortaleza diante do cerco.
A batalha é árdua, a guerra é longa e na unidade nós vamos vencer esses dias de pranto.
Tenho usado do conselho dado por uma amiga, sempre que penso no que aconteceu e quero chorar, lembro o quanto ele falava que ficaria feliz se me visse sorrindo... E que sorriso você tinha, Justen...


Como bom advogado que você foi, usando das palavras do professor Ivan Lira, requeira aí junto ao juiz supremo, Deus, uma liminar de conforto espiritual para aplacar nossa tristeza pela sua ida. Sobe em paz, meu amigo, que teu lugar agora é ao lado d’Ele.

Requer-se que advogue em nosso favor.

Publique-se.

Registre-se.

Intimem-se.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Pluripolaridade

Admiro muito quem é bipolar.

É sério. Sem brincadeira.

Deve ser moleza você lidar com apenas duas personalidades por mais adversas que elas sejam. Não tem até aqueles que dizem que opostos se atraem? E então? Do que esse povo ainda reclama?

Problema tem aqueles que, como eu, guardam dentro de si uma miríade de personas, nem sempre, gratas.
Há dias em que acordo o bom moço. Faço a cama, tomo um café saudável com frutas e iogurte, me banho e... antes de sair vejo aquela pia cheia de louça suja a me lembrar do porco selvagem que mora em mim e que foi quem chegou do trabalho na noite anterior, não querendo nada além de se refestelar no sofá e comer um gorduroso Big Tasty.

Há momentos em que me sinto o cúmulo da simpatia. Distribuo abraços e sorrisos, palavras de incentivo, vai lá, você consegue e dois segundo depois to querendo que o mundo se exploda e que os Quatro Cavaleiros do Apocalipse corram logo sobre essa terra de loucos.

Por falar em loucos, me revolta a mudança nesse novo Código Civil que tirou a poética expressão que havia no código de 1916, que em seu artigo 5º, inciso II, determina que são incapazes de exercer os atos da vida civil os loucos de todos os gêneros.

Ora, como pôde o douto legislador privar a mim e a todos os outros malucos que habitam o meu âmago de uma proteção tão magnífica? “Sabe o que é chefe, hoje to incapaz pra exercer atos da vida civil. Os loucos estão impossíveis”. Ou então “Ah amor, deixa pra amanhã que os insanos das piores categorias se manifestaram hoje e resolveram não arredar o pé do bar até que todos estejam satisfeitos”.

Pode até parecer engraçado, mas a verdade é que isso me traz problemas. Há algumas pessoas dentro de mim que são tão totalmente independentes, que nem sequer compartilham suas memórias comigo. As pessoas às vezes me contam coisas que eu fiz das quais eu realmente não me recordo e me surpreendo com a maluquice. Se me contassem sem dizer que havia sido eu (no caso um dos meus “eus”), certamente eu recriminaria certas posturas.

Penso que é por isso que sou tão tolerante com as doidices dos outros.
E, no frigir dos ovos, acho que todos nós deveríamos pensar um pouco dessa forma. A pessoa sem vergonha que mora em mim admite sem pudor esse problema de pluripolaridade, enquanto a turma mais recatada acha que deveríamos nos preservar.

Mas o time dos filósofos, este que vos escreve, pretende expor justamente essa ideia: vamos nos aceitar e aprender a perdoar os outros, pois vão haver momentos em que nós mesmos não nos reconheceremos e pode ser que aí você note que também compartilha da minha enfermidade.

Louvados sejam os loucos de todos os gêneros.